Contemplação no Nepal
Final de tarde em Lumbini e o sol se recolhe como de costume no oeste. E a cadela Neomi ladra correndo na grama, para expulsar um cão, talvez ameaçador. O provável inimigo, se retrai e sai de fininho. Atrás, num templo, um monge toca um instrumento: tum-tum-tum e entoa um mantra. A língua usada no mantra não entendo, mas reconheço o au-au-au da cadela, essa sim, me parece, ser uma linguagem universal. Ou será que no Japão o au-au-au é em japonês? Bom, deve ser tudo igual.
Assim deveria latir o homem, oh, melhor, falar, uma língua só, apenas uma. No universo o miau-miau, o au-au-au são iguais em todos os cantos. Bom…
O sol, quando de põe, no Nepal, é alaranjado forte, de fazer inveja, se aproximando do vermelho. Ele vai docemente se recolhendo.
Na grama os rapazes batem uma bola, enquanto o monge continua no tum-tum-tum e no mantra, do mesmo jeito. As sílabas de um mantra, são repetidas 108 vezes.
A noite vai chegando e com ela o silêncio que domina o local onde Buda nasceu, só quebrado pelo canto do monge e o barulho da bola.
Sentada na grama vamos contemplando. Agora passou uma daquelas formigas cabeçudas enorme, sozinha, no meio da grama. Ela também se recolheu em algum canto.
E o monge continua tum- tum-tum-tum, no templo do Vietnã.
Ah, o sol se esvai, e chega a brisa morna de uma tarde de 26°. O vento vai dando o tom do farfalhar das folhas, enquanto a cadela late.
O sol, agora, é só uma meia lua vermelha ao longe. O momento é do vento morno, e o som das folhagens que se misturam ao canto do monge, este não assiste à partida do sol, continua entoando o mantra.
No céu alguns riscos de nuvens se espalham, só para dar o ar da graça, pois na vastidão do universo tem lugar para tudo e para todos.
Ainda bem!
maio 2019.